top of page

Equipamentos de Energia na Cirurgia: Do Bisturi Elétrico ao Ultrassônico – Uma Revolução Silenciosa



Se preferir pode escutar o post!




Do bisturi elétrico ao ultrassônico: descubra como esses equipamentos revolucionaram a cirurgia com cortes mais precisos e seguros.



bisturi

Imagine-se em uma sala cirúrgica no início do século XX. A anestesia já era uma realidade, a antissepsia de Lister começava a salvar vidas, mas um problema persistia: o sangramento. Cada corte feito por um bisturi tradicional representava não apenas dor e risco de infecção, mas também hemorragias difíceis de controlar. Para o cirurgião, isso significava tensão constante; para o paciente, risco elevado de morte. Foi nesse contexto que surgiu uma inovação que mudaria para sempre a história da medicina: o bisturi elétrico.


O nascimento do bisturi elétrico


O crédito pela invenção do bisturi elétrico costuma ser atribuído a William T. Bovie, um físico norte-americano que, em 1926, desenvolveu um equipamento capaz de usar corrente elétrica de alta frequência para cortar tecidos humanos. Ele foi rapidamente incorporado à prática cirúrgica por Harvey Cushing, um dos maiores neurocirurgiões de sua época.

bisturi
bisturi

A ideia era simples, mas revolucionária: ao aplicar corrente elétrica, o bisturi não apenas cortava o tecido, mas também coagulava os vasos sanguíneos ao mesmo tempo. Isso reduzia drasticamente o sangramento intraoperatório, facilitando procedimentos antes considerados arriscados demais.

O impacto foi imediato. Pela primeira vez, cirurgiões podiam realizar operações complexas com maior controle do campo cirúrgico. A união de ciência e técnica abriu as portas para intervenções neurológicas, cardíacas e digestivas que até então pareciam impossíveis.


O bisturi elétrico e a era da precisão


bisturi

Ao longo das décadas seguintes, o bisturi elétrico foi se aperfeiçoando. Diferentes modos de energia foram desenvolvidos: corte puro, coagulação e misto, cada um ajustado para necessidades específicas. Isso permitiu que cirurgias delicadas, como remoção de tumores cerebrais ou ressecções hepáticas, fossem realizadas com muito mais segurança.

No aparelho digestivo, o bisturi elétrico representou uma mudança de paradigma. Ressecções intestinais, cirurgias de estômago e fígado tornaram-se mais seguras, pois o controle do sangramento permitia rapidez e clareza durante a operação.

Além disso, a introdução da cirurgia minimamente invasiva — a laparoscopia, nos anos 1980 — ampliou ainda mais a importância desses equipamentos. Instrumentos laparoscópicos com energia elétrica passaram a ser utilizados em procedimentos que exigiam cortes pequenos e cauterização simultânea.


A chegada do bisturi ultrassônico


Se o bisturi elétrico já havia revolucionado a prática cirúrgica, o fim do século XX trouxe outro salto: o bisturi ultrassônico.


bisturi

Esse equipamento não utiliza eletricidade direta no tecido. Em vez disso, gera vibrações de alta frequência (acima de 55.000 Hz) que cortam e coagulam simultaneamente. A grande vantagem está no menor dano térmico: enquanto o bisturi elétrico pode causar queimaduras nos tecidos adjacentes, o ultrassônico atua com precisão milimétrica e menos propagação de calor.

Para os pacientes, isso significa:

  • Menos dor no pós-operatório.

  • Menor risco de complicações como perfurações indesejadas.

  • Recuperação mais rápida.

No campo da cirurgia digestiva, o bisturi ultrassônico se consolidou em operações de vesícula biliar, bariátricas, ressecções intestinais e cirurgias de fígado e pâncreas. Sua capacidade de selar vasos sanguíneos de até 5 mm trouxe ainda mais segurança e confiança aos cirurgiões.


Do medo ao controle: a transformação da cirurgia


bisturi

Antes do advento desses equipamentos, o cirurgião vivia um dilema: cortar rápido para reduzir sangramentos, mas perder precisão; ou cortar devagar, arriscando complicações. Com o bisturi elétrico e, depois, o ultrassônico, essa equação mudou completamente.

Essas tecnologias transformaram a prática médica em algo mais previsível e controlado. Se antes o risco de hemorragia era visto quase como um destino inevitável, hoje ele é encarado como um evento raro, muitas vezes prevenível.


Avanços recentes


O século XXI trouxe novas melhorias:

  • Sistemas de radiofrequência bipolar: permitem coagulação ainda mais seletiva.

  • Seladores de vasos avançados: dispositivos que combinam energia elétrica e pressão mecânica para vedar vasos de até 7 mm.

  • Integração com robótica cirúrgica: braços robóticos equipados com bisturi de energia oferecem movimentos precisos, ampliando a segurança em cirurgias complexas.

Hoje, em muitas cirurgias do aparelho digestivo, é impensável não contar com esses recursos. Eles se tornaram extensão natural da mão do cirurgião.


A experiência do paciente


Por trás da tecnologia, o objetivo sempre foi o mesmo: proteger o paciente. Para quem passa por uma cirurgia digestiva, o uso de equipamentos de energia traz benefícios concretos:

  • Cirurgias menos invasivas.

  • Menor tempo de internação.

  • Menos complicações pós-operatórias.

  • Retorno mais rápido às atividades.

Em outras palavras, a ciência não apenas salvou vidas, mas também tornou a jornada cirúrgica menos traumática.


O futuro dos bisturis de energia


O que esperar dos próximos anos? Pesquisas já apontam para:

  • Nanotecnologia aplicada ao corte e coagulação, com instrumentos ainda mais seletivos.

  • Energia a laser combinada com ultrassom, unindo precisão óptica e vibração mecânica.

  • Inteligência artificial integrada, permitindo que os equipamentos “reconheçam” tecidos e ajustem a energia automaticamente.

O bisturi do futuro não será apenas uma ferramenta de corte: será um dispositivo inteligente, que interage com o cirurgião e ajuda a tomar decisões em tempo real.


Conclusão: uma revolução silenciosa


bisturi

Se a antissepsia de Lister inaugurou a era da cirurgia segura, os bisturis de energia inauguraram a era da cirurgia precisa e controlada. Eles representam a vitória da ciência sobre um dos maiores inimigos da prática médica: a hemorragia.

Cada vez que um cirurgião aciona um bisturi elétrico ou ultrassônico, carrega consigo quase um século de evolução tecnológica e milhares de vidas salvas. O que para o paciente pode parecer apenas um detalhe técnico, na verdade, é uma das maiores revoluções da medicina moderna.

E, assim, seguimos em frente: do corte rudimentar com lâminas afiadas à precisão silenciosa do ultrassom, cada avanço foi feito para garantir que a cirurgia seja não apenas possível, mas segura, eficiente e humana, do Bisturi Elétrico ao Ultrassônico.


-- Fernando Salan

Comentários


bottom of page